domingo, 17 de julho de 2016

POESIA E POEMA

Poesia é um conteúdo poético que podemos encontrar num poema, narrativas literárias (conto, romance, novela), crônicas... Já o poema é o texto formalizado em versos, estrofes, com certos recursos de linguagem poética: ritmo, métrica, sonoridades, figuras de estilo.
Um excelente recurso em sala de aula pois possibilita as crianças: a despertar o lado sensível, tratar de sentimentos e situações cotidianas ou não, brincar com as palavras e reconstruí-las de outras maneiras, propiciando autoria de pensamento.
Dos muitos poetas que me inspiram, trago a forte presença de Manoel de Barros em meu cotidiano como educadora na educação infantil. Um poeta que via com olhos de crianças, valorizava o simples, as miudezas, àquilo que realmente tinha e  ainda tem valor.  Um poeta que me provoca encanto, assombramento...

Projetos de aprendizagem

Trabalhar com projetos de aprendizagem tem sindo uma experiência rica e significativa. Em nosso dia a dia, fala-se muito em projetos, mas será que o compreendemos e o significamos da maneira correta junto as nossas crianças?
Dessa forma, a disciplina de Seminário Integrador III, tem-nos auxiliado nesse sentido. Através da construção grupal de nosso próprio projeto, a partir das nossas dúvidas e inquietações, nos fez refletir sobre os processos que vivenciamos com nossos alunos, desde a concepção até a efetivação dos projetos em sala de aula.
O fato de vivenciar empiricamente é muito interessante. Das inquietações e dúvidas que surgem pelo caminho, as mudanças de rumos, a construção de novos conhecimentos, as reconstruções- quantas possibilidades encontramos ao nos aventurarmos num projeto de aprendizagem




Análise de um livro, pensando sobre as infâncias

Escolhi um livro chamado: “As tranças de Bintou” de Sylviane A. Diouf, ilustrações Shane W. Evans, Editora Cosacnaify.
A presente obra retrata a história de uma menina africana e sua sonho de ter longas tranças, pois segundo ela seu cabelo “ é curto, crespo, bobo e sem graça”. Todavia somente meninas mais velhas podem usar tranças e enfeites de miçangas na cabeça, pois na aldeia onde mora, os ritos de passagem são bem demarcados e, sendo assim, a passagem da infância adolescência é vivido com festas, penteados criativos, dentre eles as tranças tão cobiçadas Bintou.
Todavia, Bintou era muito pequena e não devia dedicar-se a vaidade, mas sim brincar, aprender e ser feliz, conforme dizia sua sábia avó. Portanto, enquanto fosse criança, usaria apenas “birotes” no cabelo (pequenos coques). Bintou não se conformava. Tranças, apenas na idade certa.
O desejo da menina era tão grande que chegava a sonhar que tinha dezesseis anos e usava lindas tranças com conchinhas e pedras coloridas, mas quando acordava a decepção era grande pois percebia que tinha apenas quatro “birotes” na cabeça.
O tempo foi passando e outros fatos ocorrendo até que a menina aceita seu cabelo e os pequenos “birotes” tomam um novo significado para a menina a partir do momento em que sua avó os enfeita com diferentes adornos. Com uma auto estima e auto imagem elevada a menina caminha com passos mais firmes e confiantes. Para isso, não ultrapassou etapas, vivendo infância plenamente, aceitando da maneira como é.
Escolhi essa história pois trata da cultura africana, uma cultura extremamente rica, mas que infelizmente é pouco abordada nas escolas e quando trabalhada, muitas vezes, é apresentada de uma maneira empobrecida, fragmentada e descontextualizada. Com gravuras expressivas e um texto brilhante, apresenta de maneira lúdica o cotidiano de uma aldeia africana: seus costumes, comidas típicas, danças, batizados e os rituais de passagem.
Além disso, trata das questões da aceitação das diferenças, que é tema riquíssimo para trabalhar com as crianças desde a educação infantil. As diversidades culturais, étnico raciais...
Numa sociedade marcada pela "cultura da mídia"*, onde são impostos padrões de beleza, e modos de ser e agir, apresentar outras realidades e possibilidades aos pequenos é fundamental. Apurar o olhar das nossas crianças, ensiná-las a ver beleza na diversidade é fundamental para a construção de uma sociedade mais justa e igualitária.
Outro aspecto trabalhado no livro é o respeito ao tempo da infância, a não “adultização”, o excesso de vaidade e sensualidade que marcam nossa infância contemporânea. É preciso tempo para ser criança, que na história é marcada pela não utilização de tranças, mas de “birotes” na infância.
Sem dúvida, um livro que nos levar a pensar uma série de questões atuais e pertinentes. Uma leitura que nos impacta, abre horizontes, desacomoda, nos faz pensar, provocando sentimentos, surpresa, sentimentos...
* Cultura da Mídia: termo cunhado por Mariângela Momo


Relato criativo- Brincar na vida adulta


Na vida adulta, perdemos o hábito de brincar. Pensando nisso e tentando resgatar as vivências do brincar junto a minha mãe resolvi fazer uma experiência lúdica. Confeccionei um barangadan. Embrulhei em pacote, tal como um presente e dei para minha mãe, observando o que surgiria naquele momento.
Sendo assim, presentei, minha mãe Vera Regina. Em um passeio matinal com meu cachorro, em uma praça em frente à minha casa, falei: - Mãe, tenho um presente para te dar. Ela meio surpresa com o pacote o abriu, retirando o brinquedo.
Esboçou um lindo sorriso e logo começou a chacoalhar o novo objeto, criando possibilidades. Um casal de idosos que passavam pela rua ficou olhando, curiosos para entender o que estava acontecendo. Minha mãe, ao perceber que estava sendo observada, falou: - Que vergonha Vanessa! O que as pessoas vão pensar? Ainda com todos esses questionamentos continuou a chacoalhar o brinquedo, agora sorrindo ainda mais, na verdade gargalhando junto comigo em função do fato ocorrido.
Essa situação, em especial, me fez pensar, como nós adultos, deixamos de lado a criança que mora dentro de nós, adormecemos a criatividade, a curiosidade, para nos formatarmos dentro daquilo que a sociedade espera de nós.
Nesse sentido, nos tornamos sérios, endurecemos nossos corpos e porque não dizer mentes em nome de nos tornarmos teoricamente pessoas grandes e respeitáveis. E, tudo isso me fez lembrar de um trecho do livro do Pequeno Príncipe, que diz o seguinte: “ Todas as pessoas grandes um dia foram crianças, mas poucas se lembram disso. ”
Prosseguindo a observação - no início movimentava o brinquedo de um lado para outro. Em seguida descobriu que tinha um fio, o explorou e logo aprendeu a usá-lo. Os movimentos, aos poucos ficavam mais livres e compassados. Agora, o brinquedo laçava o seu próprio corpo e minha mãe sorria muito.
Era um sorriso diferente, aos olhos da sensibilidade, um sorriso leve, alegre, despreocupado, relaxado. Fazia tempo que não via minha mãe assim! E, de fato, por alguns momentos minha mãe estava INTEIRA, vivendo aquele momento, como se esquecesse de tudo e todos a sua volta para simplesmente brincar.
Penso, sinceramente, que essa seja a parte mais bonita do brincar – o brincar nos permite nos conectarmos com nós mesmos, a nos encontrarmos, a estarmos inteiros, nem que sejam por breves momentos.

Termino meu relato com essa citação:  “Qualquer atividade humana que seja desfrutada em sua realização –na qual a atenção de quem a vive não vai além dela- é uma brincadeira”. (Maturana, Verden-Zoller, 2004, pag. 232)




Literatura emancipatória

O livro conta a história de um menino chamado Gabriel que como toda a criança curiosa adora tocar em tudo aquilo que vê. Mas será que ele pode mexer...  Já nas primeiras páginas do livro o menino aparece mexendo em grande baú no qual retira diversos brinquedos, que se amontoam com os tantos outros já espalhados pelo chão.
 Como vemos a narrativa já se inicia com o motivo principal ou com a circunstância que leva ao conflito: Mas será que ele pode mexer...
 A história segue num suceder de fatos inusitados: Mas será que ele pode mexer... Em um jacaré do pantanal? Em um cavalo colossal? Em uma abelha abelhuda? Em uma taturana peluda? Na orelha de um gigante? Na tromba de um elefante? No queixo do pai? Na cabeça de um samurai? Em uma amoreira? Em uma cristaleira? Em uma montanha de gelatina? No pastel da cantina? E assim sucessivamente.
Fica claro que o texto é composto por rimas, o que torna a leitura, a meu ver, prazerosa e com uma sonoridade diferenciada, pois se brinca com as palavras. Nesse sentido, é uma obra inovadora, pois causa prazer no leitor, além ter um lado lúdico, adequado ao universo infantil.
O tempo e espaço onde ocorre são variáveis, pois a história acontece em diferentes locais e tempos não diferenciados, por exemplo, hora no pantanal, hora no quintal. Mistura-se realidade com fantasia, acontecimentos típicos da infância, onde o jogo simbólico “o faz de conta”, está presente. Inclusive me chamou a atenção que em todas as ilustrações Gabriel aprece com um pano amarrado no pescoço, simbolizando uma capa de super- herói. Nesse sentido, pode-se afirmar que existe uma convivência natural entre a realidade e o imaginário, que resulta do pensamento mágico. Há presença da fantasia, do imaginário, do maravilhoso.
Ressalto que a forma que o narrador conta a história é simples e envolvente, pois questiona o leitor. Com ilustrações ricas e criativas transparece claramente as emoções do personagem principal, o que instiga o leitor a seguir adiante, criando certa expectativa sobre o que virá depois. Sendo assim, há uma brincadeira com as palavras e imagens, rompendo com a ordem convencional das coisas. Gabriel é um livro que abre espaço para o novo, o inusitado, o diferente.
É uma leitura sem caráter utilitário, uma literatura emancipatória, que nos permite sonhar, viajar pelo mundo da imaginação, que nos permite ser humanos.
Por fim, a história termina com Gabriel mexendo na cauda de uma arara, na qual leva uma mordida no dedo e chora e logo mais mexendo na boneca da Clara, que fica aparentemente brava e sai correndo atrás do menino, que foge com sua boneca nas mãos. Portanto fica evidente que a situação final procura propor problemas ou situações a serem solucionadas de vários modos.
 


segunda-feira, 11 de julho de 2016

As diferentes possibilidades de trabalhar com a Literatura

O trabalho com literatura é muito mais abrangente do que muitos possam imaginar. Para além dos livros, existem inúmeras possibilidades de trabalhá-la de maneira significativa em sala de aula. E quanto maiores forem as possibilidades, mais experiências potentes estaremos propiciando para nossos alunos.
Sem dúvida, a riqueza do trabalho literário através dos livros é fascinante. O poder das ilustrações e textos bem elaborados e costurados é encantador para os pequenos. Digo isso, pois, em minha sala de aula, os momentos de contação de histórias são vividos com muita alegria pelos pequeninos.
Todavia, engana-se quem pensa que para trabalhar com literatura tenhamos que utilizar somente livros ou textos escritos. Trabalhar com movimentação, expressão corporal, rodas cantadas, com o poético- tudo isso envolve literatura.
É claro que a intencionalidade do professor fará toda a diferença, pois tendo os objetivos claros, facilita nesse processo. Além disso, adotar uma postura aberta, flexível e brincalhona é fundamental. Permitir-se, ir além do previsível - a literatura nos possibilita tudo isso.

Que possamos ir além com nossos alunos, ampliando seus repertórios, modos de ver, sentir, expressar, apreciar. A literatura é nossa amiga! 


sábado, 9 de julho de 2016

A Literartura como promotora do respeito as diferenças

 As diferenças permeiam nosso planeta sejam elas: sociais, culturais, étnicas, econômicas. Saber conviver com as diferenças numa perspectiva de respeito e valorização é fundamental. 
Nesse sentido, explorar diferentes situações literárias, amplia visões, conhecimentos, repertórios, auxiliando as crianças a perceberem outros mundos possíveis, para além da sua rede social. E isso é muito rico!
A literatura abre um leque de oportunidades e com graça e elegância, apresenta diferentes identidades, relações sociais, contextos e possibilidades de ser, estar e viver no mundo. 
Trabalhando com a Educação Infantil, percebo o quanto as crianças ficam envolvidas e encantadas com as diferentes obras literárias apresentadas. Obras essas, que são selecionadas com um olhar cuidadoso e apurado. Do mesmo modo, disponibilizo diferentes livros em sala num espaço aconchegando e acolhedor, onde os pequenos tem livro acesso.
Portanto, enquanto professores, não podemos ser reprodutores de culturas e estereótipos “ditos normais” ou “dominantes”. Precisamos aguçar o desejo de nossos alunos para além do previsível, rotineiro, para além do que é dito como “normal”. A beleza da vida é marcada pelas nossas singularidades e diferenças.



domingo, 3 de julho de 2016

LIBRAS

Enfim, estamos construindo a nossa política da verdade: as escolas bilíngues de surdos não são segregadas, não são segregadoras e nem segregacionistas como tem alardeado tanto o Ministério da Educação. Pelo contrário, são espaços de construção do conhecimento para o cumprimento do papel social de tornar os alunos cidadãos verdadeiros, conhecedores e cumpridores dos seus deveres e defensores dos seus direitos, o que, em síntese, leva à verdadeira inclusão. (CAMPELLO E REZENDE, 2014, p 19).

Realizar a leitura do artigo: “ Em defesa da escola bilíngue para surdos: a história de lutas do movimento surdo brasileiro”, foi revelador e significativo para mim, que até então pouco conhecia sobre a língua de sinais, a cultura surda e a identidade linguística surda.
Conhecer as batalhas que os surdos passaram para conquistar seus direitos, principalmente no que se refere as escolas bilíngues, tendo a Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS), como sua língua materna e posteriormente a língua escrita portuguesa, me fez crer na importância de lutarmos por aquilo que acreditamos.
Fiz o recorte da citação acima, pois foi a culminância de um texto rico e valioso, que me levou a refletir, e posteriormente concordar com a importância das escolas bilíngues para surdos. Escolas essas que são pensadas para pessoas surdas, levando em consideração suas especificidades, onde a língua de instrução é LIBRAS, com professores bilíngues, sem a mediação de interpretes e sem a utilização de português sinalizado. Há um respeito, uma cumplicidade, um ambiente linguisticamente favorável, de modo que a língua de sinais, a cultura e identidade linguística surda é respeitada e valorizada em todas suas interfaces.

Referência:

CAMPELLO Ana Regina, REZENDE, Patrícia Luiza Ferreira. Educar em Revista, Curitiba, Brasil, Edição Especial n. 2/2014, p. 71-92. Editora UFPR




“ O perigo de uma única história”

Assistir o vídeo: “ O perigo de uma única história”, proposto pela disciplina de Libras me fez pensar sobre as maneiras pelas quais  vinculamos as diferentes histórias no dia a dia, principalmente com  os nossos alunos. Nesse sentido, impregnar as histórias, os fatos, as informações com diferentes olhares e pontos de vistas é fundamental na formação dos nossos pequenos leitores.
É fato constatável, que há diferentes formas de contar uma história, de passar as informações e os fatos, sejam de uma localidade, cultura ou de alguém conhecido. Todavia, sabemos também, que muitas vezes essas histórias vêm carregada de subjetividades daqueles que a contaram. Há momentos em que detalhes fundamentais são mascarados ou distorcidos, o que de certa forma influencia o receptor das informações.
Não raro, e por não nos aprofundarmos nas diferentes histórias, aceitamos como verdades absolutas e inquestionáveis e a boniteza do pensamento questionador se esmaece dentro de nós, bem como a boniteza de tudo que poderia ter sido e não foi.
A mídia é uma expert em nos repassar informações, com apenas uma face da moeda. Numa velocidade incrível somos abarrotados de notícias e acontecimentos impregnados por uma ideologia dominante. Sem tempo de assimilar, introjetamos verdades, consumimos essas verdades e, impensadamente as reproduzimos.
Nas escolas não é diferente. Geralmente no início do ano os professores recebem uma proposta de conteúdos que deverão ser trabalhados. E estes, em muitos casos, são vividos e trabalhados da mesma maneira ano após ano.
Da mesma forma, como docentes, devemos estar atentos sobre as histórias dos alunos que chegam até nós, principalmente no início do ano. Pré-conceitos sobre as diferentes crianças, rótulos sobre suas famílias e culturas. Precisamos estar atentos, para além do que está dado, para além das histórias que nos são repassadas. Precisamos conhecer as diferentes realidades com profundidade, para além do ver. Precisamos olhar e conhecer as diferentes histórias, através de diferentes repertórios.