domingo, 17 de julho de 2016

Análise de um livro, pensando sobre as infâncias

Escolhi um livro chamado: “As tranças de Bintou” de Sylviane A. Diouf, ilustrações Shane W. Evans, Editora Cosacnaify.
A presente obra retrata a história de uma menina africana e sua sonho de ter longas tranças, pois segundo ela seu cabelo “ é curto, crespo, bobo e sem graça”. Todavia somente meninas mais velhas podem usar tranças e enfeites de miçangas na cabeça, pois na aldeia onde mora, os ritos de passagem são bem demarcados e, sendo assim, a passagem da infância adolescência é vivido com festas, penteados criativos, dentre eles as tranças tão cobiçadas Bintou.
Todavia, Bintou era muito pequena e não devia dedicar-se a vaidade, mas sim brincar, aprender e ser feliz, conforme dizia sua sábia avó. Portanto, enquanto fosse criança, usaria apenas “birotes” no cabelo (pequenos coques). Bintou não se conformava. Tranças, apenas na idade certa.
O desejo da menina era tão grande que chegava a sonhar que tinha dezesseis anos e usava lindas tranças com conchinhas e pedras coloridas, mas quando acordava a decepção era grande pois percebia que tinha apenas quatro “birotes” na cabeça.
O tempo foi passando e outros fatos ocorrendo até que a menina aceita seu cabelo e os pequenos “birotes” tomam um novo significado para a menina a partir do momento em que sua avó os enfeita com diferentes adornos. Com uma auto estima e auto imagem elevada a menina caminha com passos mais firmes e confiantes. Para isso, não ultrapassou etapas, vivendo infância plenamente, aceitando da maneira como é.
Escolhi essa história pois trata da cultura africana, uma cultura extremamente rica, mas que infelizmente é pouco abordada nas escolas e quando trabalhada, muitas vezes, é apresentada de uma maneira empobrecida, fragmentada e descontextualizada. Com gravuras expressivas e um texto brilhante, apresenta de maneira lúdica o cotidiano de uma aldeia africana: seus costumes, comidas típicas, danças, batizados e os rituais de passagem.
Além disso, trata das questões da aceitação das diferenças, que é tema riquíssimo para trabalhar com as crianças desde a educação infantil. As diversidades culturais, étnico raciais...
Numa sociedade marcada pela "cultura da mídia"*, onde são impostos padrões de beleza, e modos de ser e agir, apresentar outras realidades e possibilidades aos pequenos é fundamental. Apurar o olhar das nossas crianças, ensiná-las a ver beleza na diversidade é fundamental para a construção de uma sociedade mais justa e igualitária.
Outro aspecto trabalhado no livro é o respeito ao tempo da infância, a não “adultização”, o excesso de vaidade e sensualidade que marcam nossa infância contemporânea. É preciso tempo para ser criança, que na história é marcada pela não utilização de tranças, mas de “birotes” na infância.
Sem dúvida, um livro que nos levar a pensar uma série de questões atuais e pertinentes. Uma leitura que nos impacta, abre horizontes, desacomoda, nos faz pensar, provocando sentimentos, surpresa, sentimentos...
* Cultura da Mídia: termo cunhado por Mariângela Momo


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