Escolhi
um livro chamado: “As tranças de Bintou” de Sylviane A. Diouf, ilustrações
Shane W. Evans, Editora Cosacnaify.
A
presente obra retrata a história de uma menina africana e sua sonho de ter
longas tranças, pois segundo ela seu cabelo “ é curto, crespo, bobo e sem
graça”. Todavia somente meninas mais velhas podem usar tranças e enfeites de
miçangas na cabeça, pois na aldeia onde mora, os ritos de passagem são bem
demarcados e, sendo assim, a passagem da infância adolescência é vivido com
festas, penteados criativos, dentre eles as tranças tão cobiçadas Bintou.
Todavia,
Bintou era muito pequena e não devia dedicar-se a vaidade, mas sim brincar,
aprender e ser feliz, conforme dizia sua sábia avó. Portanto, enquanto fosse
criança, usaria apenas “birotes” no cabelo (pequenos coques). Bintou não se
conformava. Tranças, apenas na idade certa.
O
desejo da menina era tão grande que chegava a sonhar que tinha dezesseis anos e
usava lindas tranças com conchinhas e pedras coloridas, mas quando acordava a
decepção era grande pois percebia que tinha apenas quatro “birotes” na cabeça.
O
tempo foi passando e outros fatos ocorrendo até que a menina aceita seu cabelo
e os pequenos “birotes” tomam um novo significado para a menina a partir do
momento em que sua avó os enfeita com diferentes adornos. Com uma auto estima e
auto imagem elevada a menina caminha com passos mais firmes e confiantes. Para
isso, não ultrapassou etapas, vivendo infância plenamente, aceitando da maneira
como é.
Escolhi
essa história pois trata da cultura africana, uma cultura extremamente rica,
mas que infelizmente é pouco abordada nas escolas e quando trabalhada, muitas
vezes, é apresentada de uma maneira empobrecida, fragmentada e
descontextualizada. Com gravuras expressivas e um texto brilhante, apresenta de
maneira lúdica o cotidiano de uma aldeia africana: seus costumes, comidas
típicas, danças, batizados e os rituais de passagem.
Além
disso, trata das questões da aceitação das diferenças, que é tema riquíssimo
para trabalhar com as crianças desde a educação infantil. As diversidades
culturais, étnico raciais...
Numa
sociedade marcada pela "cultura da mídia"*, onde são impostos padrões de beleza, e
modos de ser e agir, apresentar outras realidades e possibilidades aos pequenos
é fundamental. Apurar o olhar das nossas crianças, ensiná-las a ver beleza na
diversidade é fundamental para a construção de uma sociedade mais justa e
igualitária.
Outro
aspecto trabalhado no livro é o respeito ao tempo da infância, a não
“adultização”, o excesso de vaidade e sensualidade que marcam nossa infância
contemporânea. É preciso tempo para ser criança, que na história é marcada pela
não utilização de tranças, mas de “birotes” na infância.
Sem
dúvida, um livro que nos levar a pensar uma série de questões atuais e
pertinentes. Uma leitura que nos impacta, abre horizontes, desacomoda, nos faz
pensar, provocando sentimentos, surpresa, sentimentos...
* Cultura da Mídia: termo cunhado por Mariângela Momo
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