domingo, 17 de julho de 2016

Relato criativo- Brincar na vida adulta


Na vida adulta, perdemos o hábito de brincar. Pensando nisso e tentando resgatar as vivências do brincar junto a minha mãe resolvi fazer uma experiência lúdica. Confeccionei um barangadan. Embrulhei em pacote, tal como um presente e dei para minha mãe, observando o que surgiria naquele momento.
Sendo assim, presentei, minha mãe Vera Regina. Em um passeio matinal com meu cachorro, em uma praça em frente à minha casa, falei: - Mãe, tenho um presente para te dar. Ela meio surpresa com o pacote o abriu, retirando o brinquedo.
Esboçou um lindo sorriso e logo começou a chacoalhar o novo objeto, criando possibilidades. Um casal de idosos que passavam pela rua ficou olhando, curiosos para entender o que estava acontecendo. Minha mãe, ao perceber que estava sendo observada, falou: - Que vergonha Vanessa! O que as pessoas vão pensar? Ainda com todos esses questionamentos continuou a chacoalhar o brinquedo, agora sorrindo ainda mais, na verdade gargalhando junto comigo em função do fato ocorrido.
Essa situação, em especial, me fez pensar, como nós adultos, deixamos de lado a criança que mora dentro de nós, adormecemos a criatividade, a curiosidade, para nos formatarmos dentro daquilo que a sociedade espera de nós.
Nesse sentido, nos tornamos sérios, endurecemos nossos corpos e porque não dizer mentes em nome de nos tornarmos teoricamente pessoas grandes e respeitáveis. E, tudo isso me fez lembrar de um trecho do livro do Pequeno Príncipe, que diz o seguinte: “ Todas as pessoas grandes um dia foram crianças, mas poucas se lembram disso. ”
Prosseguindo a observação - no início movimentava o brinquedo de um lado para outro. Em seguida descobriu que tinha um fio, o explorou e logo aprendeu a usá-lo. Os movimentos, aos poucos ficavam mais livres e compassados. Agora, o brinquedo laçava o seu próprio corpo e minha mãe sorria muito.
Era um sorriso diferente, aos olhos da sensibilidade, um sorriso leve, alegre, despreocupado, relaxado. Fazia tempo que não via minha mãe assim! E, de fato, por alguns momentos minha mãe estava INTEIRA, vivendo aquele momento, como se esquecesse de tudo e todos a sua volta para simplesmente brincar.
Penso, sinceramente, que essa seja a parte mais bonita do brincar – o brincar nos permite nos conectarmos com nós mesmos, a nos encontrarmos, a estarmos inteiros, nem que sejam por breves momentos.

Termino meu relato com essa citação:  “Qualquer atividade humana que seja desfrutada em sua realização –na qual a atenção de quem a vive não vai além dela- é uma brincadeira”. (Maturana, Verden-Zoller, 2004, pag. 232)




Nenhum comentário:

Postar um comentário