segunda-feira, 23 de novembro de 2015

       “Infância soft”

O termo "infância soft" é proposto por Susana Rangel e Camila Bettin no texto "Retratos de uma infância contemporâneo: os bebês nos artefatos visuais". Essa infância é retratada como angelical, perfeita, despojada de tristezas, como se a fase de ser bebê foi investida somente de alegrias. Nesse sentido, a criança é vista como um ser inocente, belo, feliz por natureza. Essa infância, geralmente, é representada por crianças brancas, de olhos claros, “fofinhas” e rechonchudas.

Não espaço para outras infâncias possíveis e, sem dúvida, existentes que permanecem invisíveis na escuridão. Permeada por uma lógica que exclui e segrega os que não se encaixam nos padrões do grupo, acaba vendendo produtos e concepções do que é ser bonito, o que deve ser valorizado e o que não deve, apresentando um padrão de corpo infantil que deve ser cuidado e mantido por uma estética padronizada.




Fonte: BORGES, Camila Bettim; CUNHA Susana Rangel Vieira da. Retratos de uma infância contemporânea: os bebês nos artefatos visuais. Textura, v. 17, n. 34, p. 99-111, 2015.



quarta-feira, 4 de novembro de 2015

Sinos de Anya

Vanessa Quadros

O filme Sinos de Anya muito me comoveu. Com uma história envolvente, apresenta um olhar sensível sobre as diferentes aprendizagens na vida humana e me reportou a pensar sobre a importância de ser investido pelo desejo do outro. Nesse sentido, trago para essa conversa um pensamento de Fernando Pessoa que diz: “Sou o intervalo entre o meu desejo e aquilo que o desejo do outro fez de mim.”
O personagem principal foi rotulado como lento, incapaz, desqualificado na frente de seus colegas pela própria docente. A mãe, apesar de amá-lo e defendê-lo, também não participava ativamente do cotidiano do menino. Não compartilhava de seus anseios, dificuldades e medos, principalmente em relação à leitura.
Graças ao olhar cuidadoso e amoroso de Anya, cega de nascença, mas que enxergava com o coração, a dislexia foi descoberta e a partir daí um divisor de águas se fez na vida dessa criança. Nasce um sujeito que se coloca no lugar de alguém capaz de produzir saberes, habilitado a aprendizagem. É como se alguém dissesse para o menino: - Olhe para si, você tem asas para voar, você é capaz, liberte-se. E, a partir disso o menino começar a ensaiar seu primeiro vôos de liberdade. Foi lindo!
Do mesmo modo, esse menino com seus gestos e palavras carinhosas para Anya, também apresentou novos horizontes de vida para ela, que até então não se autorizava a ultrapassar o demarcação de sua casa por sentir-se impotente, incapaz. 
A força das relações, interações qualificadas, empáticas e amorosas são retratadas no filme. A importância do olhar carregado de afeto, da presença de um grande outro que nos signifique; que nos diga que somos capazes, que nos mostre que o caminho é difícil, mas não impossível.

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Os desafios de educar uma infância pós-moderna

 Vanessa Quadros

Ser professor sempre foi um desafio! Ser professor numa sociedade pós-moderna é um desafio ainda maior. Educar uma infância pós-moderna é uma tarefa que nos exige muito como profissionais e seres humanos.
Vivemos em uma sociedade permeada por prazeres e desejos efêmeros, vazios, com um empobrecimento de significados muito grande. Consumimos, num ritmo enlouquecedor, não há pausa para a reflexão, a contemplação do belo. Parafraseando com Descartes– Consumo, logo existo!
Os desafios que a sociedade e a cultura, que se modifica constantemente, pós-moderna nos apresenta é muito grande. O culto a beleza e a juventude, a busca da felicidade, do status, da realização dos desejos, do imediatismo e de tantas outras características que caracterizam esse momento, acabam construindo sujeitos implicados nesses modos de viver e significar a vida.
Em meio a tudo isso, está imbricada a infância, produtora de culturas infantis ricas, mas ao mesmo tempo, crianças que estão constituindo a sua estrutura psíquica, corporal... Crianças que influenciam e enriquecem os meios onde vivem, mas que principalmente são influenciadas pelo meio, por uma “cultura da mídia”. Onde o “ter” é mais importante que o “ser”, onde o consumir não se restringe somente ao consumo de bens materiais. Um consumo que produz significados e acaba os significando.
É preciso que enquanto educadores da infância, tenhamos um olhar muito atento nesse sentido. De modo que ajudemos a constituir sujeitos inteiros, movidos pela pulsão de vida. É preciso que ampliemos os repertórios de nossos pequenos, mostrando novos horizontes possíveis para além do consumo, do imediatismo, da falta, da lacuna.
 A infância precisa ser cuidada e olhada de maneira acolhedora, investida de significados permeados de amor e afeto, de modo que levemos os nossos “pequenos” a questionarem as verdades dadas e inquestionáveis. É preciso apreciar o belo, as nuances da vida.


 Penso que assim estaremos construindo uma sociedade com sujeitos mais livres, humanizados, com compreensão empática e principalmente com uma estrutura “egóica” mais fortalecida. Lutemos por uma sociedade mais iluminada e saudável!