quarta-feira, 1 de julho de 2015

O pensamento abissal- Reflexão sobre a Interdisciplina: Escola Cultura e Sociedade

Entre idas e vindas de Novo Hamburgo, cidade na qual resido, e Porto Alegre, minha cidade natal, eis que parei numa padaria e confeitaria tradicional da capital, situada na Av. Borges de Medeiros. Naquele turbilhão de pessoas, falas desencontradas, olhares perdidos, outros felizes, entre tantas mãos que carregavam seus celulares conectados as redes sociais, fiz meu pedido a atendente e sentei-me aguardando meu lanche.
Em meio a tudo isso comecei a refletir sobre a sociedade pós moderna. Nesse meio tempo, adentra no estabelecimento uma criança indígena, de aproximadamente se 6 anos de idade. Era uma manhã muito fria e o menino trajava um moletom fininho, um calça de malha e nos pés calçava um chinelo, sem meias.
A criança, certamente faminta, parava ao lado das pessoas e não pedia nada, apenas olhava. Falava através do olhar. Um olhar carregado e sofrimento, de fome, de esperança que seu olhar encontrasse ou cruzasse com um olhar de um outro alguém que estivesse ali. Parei a observar a cena.
Um grupo de aposentados bem vestidos, comiam seus lanches prazeirosamente, enquanto conversavam e riam. Trabalhadores apressados enquanto tomavam seu café mexiam nos seus celulares, famílias conversavam e se alimentavam. 
O "indiozinho" parou por ali e olhava para as pessoas como se clamasse por um pedaço de pão. Todos em algum momento o olharam, mas de certa forma não o viram. A atendente, então se aproximou da criança e disse que fosse ao responsável pela loja pedir um pão. O menino assim o fez. Não obtendo uma resposta positiva voltou e parou do meu lado. 
Ofereci um lanche e um refrigerante a criança. Esse aceitou e saiu contente da confeitaria. 
Retornando para estação de trem, me deparo com o "indiozinho" sentado no chão comendo o salgado, que havia repartido em três pedaços, um para ele, outra para mãe e outro para a irmãzinha.  Me comovi com a cena. Com meus olhos já umedecidos, continuei a caminhar, pois fazia tempo que não via uma cena tão linda, ainda mais nos tempos atuais, onde o que vale é a lógica do individualismo, do egoísmo e da falta de empatia.
Frente a toda essa cena refleti sobre a interdisciplina: Escola, Cultura e Sociedade. Em especial a leitura do texto: Ações Coletivas e Conhecimentos: Outras Pedagogias, de Miguel G Arroyo. Neste texto trabalhamos justamente com essa questão dos subalternizados, oprimidos por diferentes formas de dominação econômica, política e cultural. A questão dos marginalizados, bem como a questão do pensamento abissal, trazido por Boa Ventura de Souza Santos.
Pensamento esse, muito mais radical que o pensamento da marginalidade, da exclusão, de modo que o outro se torna inexistente. Conforme é colocado no texto, produzir seres humanos como "não Outros" é muito mais radical do que produzí-los como "Outros ilegítimos".

Um comentário:

  1. Realmente não consigo entender onde vamos chegar, e a fome é uma das necessidade mais básica que temos que suprir para continuar vivendo, e quando nos deparamos com criança em fase de crescimento assim mendigando por um pedacinho de pão é de cortar o coração. E o modo que ele agiu foi de um grandeza sem igual, pensou na sua família e dividiu o pouco que ganhou. Poucas pessoas fazem isso atualmente, e digo as vezes adultos não repartem e não pensam nos filhos.
    Onde vamos parar dessa forma? Poucos com muito, e muitos com tão pouco. Triste realidade essa nossa... Mas teu gesto foi muito bom, e sempre que posso também faço isso que fizeste, pois não consigo me alimentar tendo alguém com fome do meu lado.

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